segunda-feira, setembro 18, 2006

Peta II: Do 11 de Setembro

Está publicado um novo excerto de Rega as flores que elas crescem.
Peta II: Do 11 de Setembro
O Sol voltou a dar à luz, naquela manhã veranil. Renasceu a América, marcavam os calendários o dia 11 de Setembro de 2001.
Torres, juntamente com noventa e um entes, deslumbrara-se com a alvorada, cruzando os céus a bordo do voo 11 da American Airlines, com rota definida para Los Angeles. Partira de Boston, Massachussets, onde havia passado algum tempo, ocupando-se com actividades de âmbito turístico. Agora, essas recordava saudoso, com a cabeça apoiada na pequena janela, vislumbrando a paisagem longínqua que se estendia sob o chão virtual que pisava.
Ultrapassadas as 08:40, a aeronave vinha já baixando de altitude, próxima que estava a sua chegada ao destino...
Estranhamente, foi nesta fase do trajecto que elementos da tripulação se deslocaram à área de passageiros para distribuir refeições, começando pelos viajantes em primeira classe, grupo que englobava Torres.
Chegada a vez de ser prestado serviço à sua fila, o jovem recebeu simpaticamente o seu tabuleiro, seguindo-se certo indivíduo de fisionomia arábica, que tomava o assento a seu lado, cujas origens eram confirmadas pelos trajes que envergava. Era um homem de certa pujança. As barbas longas mascaravam-lhe a idade. Conservara-se sempre calado, desde a descolagem do aparelho, impávido, compenetradamente absorto nos seus pensamentos.
Aquele ambiente mudo maçava o adolescente português. Bem lhe podia dar a oportunidade de narrar as suas inúmeras e incríveis peripécias, mas não o fez. Por sua vez, Torres nunca teve motivação para romper aquela barreira de silêncio, que o separava do seu invulgar companheiro.
Também não seria agora, que se deliciava com o pequeno-almoço, que o iria fazer. Comia satisfeito, enquanto mirava com um olhar faminto o que lhe faria o gosto ao paladar, de seguida.
Foi nisto que, subitamente, o tal sujeito que se encontrava à sua direita, avançou para o centro do corredor, segurando um estranho mecanismo – era uma bomba nuclear! Em volume bem audível, bradou, no seu idioma: “Estejam todos quietos ou isto vai tudo pelos ares!”.
Conhecedor que era de diversas línguas, Torres compreendeu, de pronto, a mensagem transmitida, ao contrário dos demais passageiros.
De qualquer forma, não foi necessária tradução para que um terror gélido invadisse o compartimento. Petrificadas, as pessoas não ousaram esboçar um único gesto ou pronunciar qualquer palavra. O medo travava-as.
O ameaçador percorria as suas faces com um olhar sinistro, evidenciando-se determinado a agir perante alguma provocação.
Apenas Torres, nas suas costas, estava fora da área de supervisão. Se havia alguém que pudesse fazer algo, era ele. Sem dúvida, a sua posição era privilegiada para isso. Apercebendo-se desse facto, o rapaz sentiu urgir a hora de se tornar um herói.
Apoderado de uma coragem incomum, sorrateiramente, apertando com força o tabuleiro de plástico entre os dedos, levantou-se, sem fazer ruído. Deu um passo em direcção ao árabe e, após erguer a arma improvisada nas alturas, desferiu uma pancada hercúlea que atingiu o topo da sua cabeça.
A bomba nuclear rolou das mãos da vítima, cujo cadáver tombou redondo no chão.
Torres manteve-se imóvel durante breves segundos, olhando, antes de respirar de profundo alívio.
Toda a comitiva aplaudiu, de pé, aquele acto de bravura. Os que estavam mais perto felicitavam o seu salvador, por lhe darem palmadas amigáveis nas costas ou apertarem as suas mãos, com um sorriso devoto.
Dois tiros ecoaram no avião.
As pessoas gritaram em sinal de agonia, procurando refúgio à prova de bala. O barulho era proveniente da parte dianteira do veículo, para onde Torres avançou com passadas largas, entre as margens humanas aterrorizadas.
Ao invadir o cockpit, deparou-se com certo homem, também de clara origem semita, semelhante ao anterior, que se injectava com uma substância não identificada.
Atrás de si, jaziam os corpos inanimados dos dois pilotos, uma bala crivada em cada testa. O homicida largava agora o revólver e a seringa, contorcendo-se desesperadamente no chão, como se algo o consumisse por dentro. Não tardaria para que o efeito do veneno lhe pusesse definitivamente termo à vida.
Ao observar toda a cena, Torres chegou a ter a sensação de que estava a viver um filme.
E, como se não bastasse, ao olhar pelo vidro frontal da cabine, avistou uma gigantesca torre hirta, a uma escassa distância. O avião estava prestes a colidir, o desastre era iminente!
Uma sensação frustrante de impotência perante a situação prendeu-o ao solo. Boquiaberto, era incapaz de reagir, tal era o seu pasmo. Mas tinha de fazer algo, imperativamente. Torres não podia ter um fim tão desventurado.
Reunindo toda a sua concentração, desatou a remexer em tudo o que havia em seu redor.
Ainda tentou alterar a direcção da aeronave, mas fê-lo em vão. Apesar de estar bastante rotinado em conduzir helicópteros, não viu forma de estabelecer uma analogia entre tal modalidade de pilotagem e o conglomerado de comandos que compunham o painel de controlo à sua frente.
Era o seu coração que o comandava. Instintivamente, dirigiu-se a um armário ao fundo do cockpit, escancarou as duas portas, e achou diversas mochilas que continham pára-quedas no seu interior. A esperança renasceu para aquele jovem em apuros!
Tornou a espreitar pelo visor. Uma centena de metros, talvez, separavam-no do edifício com que iria chocar dentro de instantes.
De cabeça perdida, Torres tentava de todas as formas abrir uma porta na lateral da cabine. Sem saber bem como, conseguiu fazê-lo.
Não perdeu um segundo, lançou-se para terra, deixando o avião para trás.
Escutou o estrondo ensurdecedor do embate do veículo no majestoso prédio que ali se erguia e, por pouco, não foi engolido pela poderosa bola de fogo que se alastrou no céu. Distinguiu claramente, entre as chamas, uma das torres gémeas que faziam parte do famoso World Trade Center, em Nova Iorque.
Puxou o cordão de abertura do pára-quedas, que lhe reduziu o campo de visão, e pairou descendentemente até aterrar em segurança.
Afinal, alguém sobreviveu para contar...

12 Comments:

At 9/20/2006 12:39:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

tava com algumas expectativas para ir ver o voo 93 mas dps de ler esta historia axo k o filme nao vai ter piada nenhuma... ;-) Well done!

 
At 9/20/2006 12:41:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

a mlh parte é a do tabuleiro de plaxtico lolol exe torres nao é bonxinho da cabexa nao...

 
At 9/20/2006 02:35:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

cm é q a bomba nuclear passou no ckeckin?? ese gaju num existe...

 
At 9/21/2006 12:04:00 da manhã, Blogger Ilidio Leite said...

Sim... ele existe!

 
At 9/21/2006 06:33:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Já ouviram falar no Magalhães Lemos? É o local ideal para esse artista continuar a contar histórias...
Bem, continuem a escrever, estão de parabéns. Passa-se um bom bocado a ler...

 
At 9/22/2006 07:09:00 da tarde, Blogger Ilidio Leite said...

Magalhães Lemos? Televisão meu amigo!

 
At 9/24/2006 09:52:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

lol ainda ontem a noite fui ver o wtc ao cinema e n me lembra de ter visto ng a saltar do aviao

 
At 9/24/2006 11:19:00 da tarde, Blogger Ilidio Leite said...

Obviamente que tudo foi encoberto pelos serviços secretos americanos... Mas nós somos os guardiões da verdade!

 
At 9/24/2006 11:41:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Que raio de criatura contou uma coisa dessas? Suprimam-no!

 
At 9/27/2006 10:03:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

tem q mandar esta historia p hollywood. pode ser q facam + 1 filme eheheh

 
At 10/04/2006 10:08:00 da tarde, Blogger Gervásio said...

Poucas são de facto a palavras pra descrever o que acabo de ler

very very good job

 
At 12/11/2006 11:37:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Sem comentários.

 

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